quinta-feira, 14 de maio de 2015

O pensamento cristão

Pensamento Cristão

A história do pensamento cristão pode ser dividida do seguinte modo:

O Cristianismo, isto é, o pensamento do Novo Testamento.
Não vamos aqui tratar desse assunto por ser estritamente religioso.

Quanto a filosofia-teologia cristã temos:

A Patrística, a saber, o pensamento cristão desde o II ao VIII século, a que é devida particularmente a construção da teologia, da dogmática católica; Aurélio Agostinho

A Escolástica, a saber, o pensamento cristão desde o século IX até o século XV, criadora da filosofia cristã verdadeira e própria. Tomas de aquino.

O período patrístico.

O período patrístico é vital na história do cristianismo uma vez que contextualiza a informaçõe cristã primitiva a partir do momento da morte do último apóstolo entre 100 d.C até o iníco da Idade Média por volta de 341 d.C.

neste período acontece a coesão entre o judaísmo eo cristianismo em vários pontos teológicos.
A partir de cristianismo romano para as igrejas reformadas muitos conceitos cristãos básicos surgem nessa época, e dai para frente, a igreja vai acreditar na ortodoxia sobre todos os sectários heréticos.

Durante os duzentos primeiros anos dessa era a igreja estava sob perseguição de vários imperadores romanos.
Passou sua pior época com Diocleciano (303 d.C).
O cristianismo se tornou legalizado em Roma como uma religião na era de Constantino (321 d.C).
A cidade de Alexandria (Egito) emergiu como um centro de educação teológica cristã.
A cidade de Antioquia (Turquia) também se tornou um dos principais centros do pensamento cristão.
Na África do Norte ocidental surgiram homens como Tertuliano, Cipriano de Cartago, e Agostinho de Hipona.

Muitos dos debates desse tempo estão alojados tanto em questões teológicas como filosóficas, é importante considerar ambos os temas para entender esse período.
Nessa época ainda havia uma grande divisão na igreja em termos de linguagem, o grego no oriente e o latin no ocidental ocasionavam também barreiras políticas.

As principais figuras desse período foram:

Justino(100-165 d.C) foi um dos maiores apologistas cristãos que atuaram contra o paganismo. Ele foi um dos primeiros teólogos que tentou relacionar o evangelho a filosofia grega.
Ireneu de Lyon (130-200 d.C), foi eleito bispo da cidade francesa de Lyon por volta de 178 d.C. Ele é conhecido pelos seus escritos em "Contra as Heresias" onde defendeu a fé cristã contra o gnosticismo.
Clemente de Alexandria (150-215 d.C) foi um líder e escritor alexandrino com preocupação em explorar a relação entre o pensamento cristão e a filosofia grega.
Tertuliano (160-255 d.C) foi uma figura importante no início da teologia latina que produziu uma série de escritos polêmicos e apologéticos. Ele ficou conhecido por sua capacidade de cunhar novos termos latinos a partir do vocabulário teológico da igreja oriental de língua grega.
Orígenes (185-254 d.C) foi um dos maiores representantes da escola alexandrina de teologia, especialmente conhecido por sua exposição alegórica da escritura e o uso de idéias platônicas em teologia. Os originais de muitas de suas obras escritos em grego foram perdidos, por isso alguns são conhecidos apenas em latim.
Cipriano de Cartago (falecido em 258 d.C) foi um retórico de habilidade considerável que se converteu ao cristianismo em torno de 246, foi eleito bispo da Cartago em 248. Seus escritos se concentram principalmente na unidade da igreja e no papel de seus bispos na manutenção da ortodoxia e da ordem.
Atanásio (296-373 d.C) foi um dos defensores mais significativos da cristologia ortodoxa durante o período da controvérsia ariana. Eleito bispo de Alexandria em 328. Embora ele tenha sido apoiado no ocidente seus pontos de vista só foram reconhecidos pelo Concílio de Constantinopla (381 d.C) depois de sua morte.
Gregório de Nazianzo (329-389 d.C), é lembrado por seu escrito teológico "Cinco Orações" e uma compilação de excertos dos escritos de Orígenes chamado "Flocalia". Ele também escreveu em defesa da doutrina ortodoxa da Trindade.
Basilio de Cesaréia (330-379 d.C), residiu na Turquia. Ele é lembrado por seus escritos sobre a Trindade, especialmente quanto ao papel específico do Espírito Santo. Ele foi eleito bispo em 370.
Gregório de Nissa (330-395 d.C), é especialmente conhecido por sua vigorosa defesa da doutrina da Trindade.
Agostinho de Hipona (354-430 d.C) é amplamente considerado como o escritor patrístico mais influente. Ele se converteu ao cristianismo na cidade italiana de Milão no verão de 386. Retornou ao norte de África e foi feito bispo de Hipona em 395. Foi envolvido em duas controvérsias principais - a controvérsia donatista, com foco na igreja e sacramentos, e a controvérsia pelagiana, com foco na graça e pecado. Ele também fez contribuições substanciais para o desenvolvimento da doutrina da Trindade e da compreensão cristã da história.
Cirilo de Alexandria (morreu por volta de 444 d.C) foi um escritor nomeado patriarca de Alexandria em 412. Ele foi envolvido com a controvérsia sobre os pontos de vista cristológico de Nestório, e produziu grandes refutações e defesas da posição ortodoxa sobre as duas naturezas de Cristo .
Vicente de Lerins (morreu 449 d.C) foi um teólogo francês que se estabeleceu na ilha de Lerins. Ele é particularmente conhecido por sua ênfase sobre o papel da tradição e proteção contra inovações na doutrina da igreja.

Formação teológica durante o período patrístico

A teologia cristã, desde o seu início apelou à escritura e foi baseada na Bíblia.
O termo "canonical" foi usado para escolher o que seria incluído nas escrituras.
Para os escritores do Novo Testamento o termo "escrituras" se refere ao Antigo Testamento.

Tertuliano declarou que o Antigo Testamento estava ao lado dos escritos evangélicos e apostólicos.
Um acordo foi feito em um momento posterior de como os livros deveriam ser incluídos.
Atanásio em 367 d.C editou sua Carta Festal que juntou os 27 livros do Novo Testamento que passaram a ser a Bíblia cristã.

Num contexto em que grupos sectários foram distorcendo os significados o apelo à tradição tornou-se importante.
A palavra "tradição" significava "proferida."
Irineu a chamou de regra de fé.
Esta regra de fé foi fielmente preservada pela igreja apostólica e é encontrada nas Escrituras.
O termo "tradição" passou a significar "uma interpretação tradicional da Escritura".
Desta forma, a regra de fé foi comumente aceita pela igreja como a verdade das Escrituras e originou uma declaração, credo ou confissão sobre essas verdades (como o Credo dos Apóstolos).
A palavra "credo" vem do latim "eu acredito". Mais tarde declarações de fé eram conhecidas como confissões, como a Confissão de Fé de Westminster.
Estas seriam as bases da crença cristã e cada cristão deve ser capaz de aceitar e se comprometer com elas.
Um credo difere de uma confissão na medida em que é uma declaração universal das verdades mais simplistas da fé cristã.
O Credo dos Apóstolos é o credo mais conhecido da igreja cristã.
Ele é dividido em três seções que tratam de Deus, Jesus Cristo e do Espírito Santo.
O Credo Niceno é uma versão mais longa que destaca a relação entre Jesus Cristo e o Espírito Santo.

As duas naturezas de Cristo também foram um grande assunto controverso no período patrístico.
A conclusão foi de que Jesus Cristo era da mesma substância de Deus.
Duas escolas diferiam nas opiniões sobre isto:
a Escola Alexandrina colocou a tônica na divindade de Cristo;
e a escola Antiochene colocou ênfase na humanidade de Cristo.
Os debates versaram na controvérsia ariana de determinar se Jesus era Deus, ou um ser criado.
O Concílio de Nicéia (325 d.C) foi convocado por Constantino e resolveu a controvérsia ariana ao afirmar que Jesus era homônimo com o Pai, ou seja, da mesma substância.
Após a solução da polêmica sobre a divindade de Cristo a doutrina da Trindade foi aceita por completo.

A idéia básica por trás da Trindade é que há três pessoas na Divindade - Pai, Filho e Espírito Santo, e que as três são consideradas como igualmente divinas e de um estatuto igual.
A "doutrina da Igreja" também apareceu como um assunto importante, especialmente quanto à sua santidade.
Os donatistas argumentaram que a igreja era um corpo de santos onde os pecadores não tinham lugar.
Isto tornou-se particularmente importante quando os donatistas não queriam permitir a volta dos desertores da igreja e defenderam a sua expulsão.
Agostinho falou o oposto, afirmou que a igreja deve continuar a ser um corpo misto de santos e pecadores.
A santidade da igreja não depende da santidade dos seus membros, mas, de Jesus Cristo.

As doutrinas da graça também vieram à tona nos escritos de Agostinho sobre a heresia propagada por Pelágio, monge britânico que acreditava que o pecado de Adão não afeta nenhum dos seus descendentes.
Tão forte era a palavra de Agostinho contra Pelágio que ele ficou conhecido como o "doutor da graça".
Pelágio dizia que os recursos da salvação se formam dentro da humanidade, e Agostinho dizia que estavam unicamente em Cristo.
A ideia do pelagianismo pode ser resumida como "a salvação por mérito", enquanto que com Agostinho a "salvação é pela graça".
O Concílio de Cartago (418 d.C) decidiu adotar a doutrina da graça e condenou o pelagianismo em termos inflexíveis.
Nada mais óbvio!
Não interessava ao cristianismo uma "salvação" sem Cristo.

Santo Agostinho
Em latim Aurelius Augustinus
Nasceu em 13 de novembro de 354 em Tagaste, atual Argélia.
Morreu em 28 de agosto de 430 em Hipona.

Aurélio Agostinho destaca-se entre os patrísticos como Tomás de Aquino se destaca entre os Escolásticos.
Tomás de Aquino se inspirou na filosofia de Aristóteles, Agostinho inspirou-se em Platão, no neoplatonismo.
Agostinho fundiu o caráter especulativo da patrística grega com o caráter prático da patrística latina, ainda que os problemas que abordou sejam práticos e morais: o mal, a liberdade, a graça, a predestinação.

Filosofia

Agostinho estudou em Cartago.
Abandonou o maniqueísmo que havia adotado e abraçou a filosofia neoplatônica, a espiritualidade de Deus e a negatividade do mal.
Adotou o cristianismo no ano 386.
Entretanto a conversão moral demorou ainda, por razões de luxúria. a conversão total só veio mais a frente.
Agostinho renuncia inteiramente ao mundo, à carreira, ao matrimônio, isola-se durante alguns meses em companhia da mãe, do filho e de alguns discípulos perto de Milão.
Aí escreveu seus diálogos filosóficos, na Páscoa de 387 recebeu o batismo em Milão das mãos de Santo Ambrósio, cuja doutrina e eloqüência muito contribuíram para a sua conversão.
Tinha então trinta e três anos.

Depois da conversão Agostinho abandona Milão e volta para Tagasta.
Funda um mosteiro numa das suas propriedades.
Ordenado padre em 391 e consagrado bispo em 395 governou a igreja de Hipona até à morte.
Após a sua conversão, Agostinho dedicou-se inteiramente ao estudo da Sagrada Escritura, da teologia revelada, e à redação de suas obras, entre as quais têm lugar de destaque as filosóficas.

As obras de Agostinho que apresentam interesse filosófico são os diálogos filosóficos:
Contra os acadêmicos;
Da vida beata;
Os solilóquios;
Sobre a imortalidade da alma;
Sobre a quantidade da alma;
Sobre o mestre,;
Sobre a música;
Sobre os costumes;
Do livre arbítrio;
Sobre as duas almas;
Da natureza do bem.

Porém, em Agostinho a filosofia e a teologia andam juntas.
Também interessam à filosofia as obras teológicas e religiosas:
Da Verdadeira Religião.
As Confissões;
A Cidade de Deus;
Da Trindade;
Da Mentira.

Agostinho considera o platonismo como solução parcial do problema da vida, ao qual só o cristianismo pode dar uma solução integral.

Seu interesse recai no problema de Deus e da alma por serem os mais importantes para a solução do problema da vida.
Agostinho resolve esse problema com o idealismo platônico.
Tem certeza da existência espiritual, daí tira uma verdade superior, origem de toda verdade particular.
E como para ver, além do olho é necessária a luz, do mesmo modo, para o conhecimento intelectual, é necessária uma luz espiritual.
Esta vem de Deus, é a Verdade de Deus, o Verbo de Deus, para o qual são transferidas as ideias platônicas - no Verbo de Deus existem as verdades eternas, as idéias, os princípios formais das coisas e são os modelos dos seres criados.

É a transformação do idealismo platônico em teísmo cristão.

Porém, permanece a distinção gnosiológica platônica da aristotélica e tomista.
Seguindo a concepção platônica-agostiniana, não bastam para que se realize o conhecimento intelectual as forças naturais do espírito, deve existir uma iluminação de Deus.

Também a psicologia agostiniana harmonizou-se com o seu platonismo cristão.
O corpo não é mau por natureza (Rousseau não foi inédito!), porquanto a matéria não pode ser essencialmente má, tendo sido criada por Deus.
A alma nasce com o indivíduo humano e é uma específica criatura divina, como todas as demais.
Agostinho fica indeciso quanto a se a alma é criada diretamente por Deus ou provém da alma dos pais.
Certo é que a alma é imortal...

A natureza não entra nos interesses filosóficos de Agostinho, ele está restrito aos problemas éticos, religiosos, Deus e a alma.

A moral agostiniana é teísta e cristã, transcendente e ascética.
Uma característica da sua moral é a primazia do prático, da ação.
A vontade não é determinada pelo intelecto, mas precede-o.
Não obstante, Agostinho tem também atitudes teoréticas como quando afirma que Deus é possuído por um ato de inteligência.
Porém, a vontade é livre (primeira manifestação do livre arbítrio), e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus.
E deve-se considerar não causa eficiente, mas deficiente da sua ação viciosa, porquanto o mal não tem realidade metafísica.
A vontade humana, portanto, é impotente sem a graça.
O problema da graça tem um interesse filosófico, pois se trata de conciliar a causalidade absoluta de Deus com o livre arbítrio do homem.
Como é sabido, Agostinho, para salvar o primeiro elemento, tende a descurar o segundo.

Quanto à família Agostinho considera o celibato superior ao matrimônio, se o mundo terminasse por causa do celibato, ele alegrar-se-ia, como da passagem do tempo para a eternidade.

Quanto à política, ele tem uma concepção negativa da função estatal, se não houvesse pecado e os homens fossem todos justos, o estado seria inútil.
Para Agostinho a propriedade seria de direito positivo e não natural.
Nem a escravidão é de direito natural, mas conseqüência do pecado original, que perturbou a natureza humana, individual e social.
Ela não pode ser superada naturalmente, racionalmente, porquanto a natureza humana já é corrompida, só pode ser superada mediante a conformação cristã de quem é escravo e a caridade de quem é amo.

A solução do problema do mal por ele achada foi a sua grande descoberta filosófico-teológica, e marca uma diferença fundamental entre o pensamento grego e o pensamento cristão.
Agostinho nega a realidade metafísica do mal.
O mal não é ser, mas privação de ser, como a obscuridade é ausência de luz.
Tal privação é imprescindível em todo ser que não seja Deus.
Assim é explicado o chamado mal metafísico, que não é o verdadeiro mal.
Quanto ao mal moral realmente existe a vontade que faz o mal, mas não é causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal não-ser.
Este não-ser pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e não de Deus, que é puro ser e produz unicamente o ser.
O mal moral entrou no mundo humano pelo pecado original, por isso a humanidade foi punida com o sofrimento.
Como se vê, o mal físico tem, deste modo, uma outra explicação mais profunda.

Remediou este mal moral a redenção de Cristo, Homem-Deus, que restituiu à humanidade os dons sobrenaturais e a possibilidade do bem moral; mas deixou permanecer o sofrimento, conseqüência do pecado, como meio de purificação e expiação.

E, o mal moral e de suas conseqüências estaria no fato de que é mais glorioso para Deus tirar o bem do mal, do que não permitir o mal...

Agostinho trata do problema da história na Cidade de Deus.
A Cidade de Deus é a obra maior de Agostinho.
Essa "cidade" tem semelhança com a cidade "perfeita" governada por sábios projetada por Platão na República.

Nesta obra é contida a metafísica original do cristianismo, que é uma visão orgânica e inteligível da história humana.
O conceito de criação é indispensável para o conceito de providência, que é o governo divino do mundo.
Este conceito de providência é necessário para que a história tenha racionalidade.
O conceito de providência era impossível no pensamento grego por causa do dualismo metafísico.
Cristo tornara-se o centro sobrenatural da história, o seu reino, a cidade de Deus, é representada pelo povo de Israel antes da sua vinda a terra, e pela igreja depois da sua vinda.
Contra este cidade se ergue a cidade terrena, mundana, satânica.

Em vista disso tudo, podemos dizer que o cristianismo tem como base da sua teologia, o platonismo.
Pois a filosofia idealista de Platão conceituou a existência de um mundo ideal, perfeito, de onde tudo emana, ou seja, Deus.


A Escolástica

Escolástica foi uma escola medieval de filosofia, ou, um método de aprendizagem, ensinado por mestres em escolas e catedrais medievais entre o século XII e o século XVI.

Combinou lógica, metafísica e semântica em uma única disciplina, é reconhecido por ter desenvolvido bastante a nossa compreensão da lógica formal.

O termo "escolástico" é derivado da palavra grega "scholastikos", que significa "uso da leitura para aprender" ou "erudito", e também da palavra grega "scholeion" que significa "escola".

A Escolástica é mais conhecida por sua aplicação na teologia cristã medieval, especialmente nas tentativas de conciliar a filosofia dos antigos filósofos clássicos, especialmente Aristóteles, com a teologia cristã.
No entanto, a Escolástica do período final foi além da teologia, teve aplicações em muitos outros campos de estudo, incluindo epistemologia, filosofia da ciência, filosofia da natureza e psicologia.
Essencialmente a Escolástica foi um método de aprendizagem que utilizava o método socrático do diálogo e a lógica aristotélica, com perguntas e respostas, na busca de uma conclusão final.

Na Europa medieval a Lógica Formal foi uma das três artes originais, além da Retórica e da Gramática (Linguagem).

As características principais da Escolástica podem ser separadas como a seguir:

1. Trabalhar na aceitação e predominância da ortodoxia católica.
2. Dentro dessa ortodoxia, formular uma demonstração que Aristóteles foi um pensador melhor do que Platão.
3. Reconhecimento de que Aristóteles e Platão discordaram sobre a noção de universais (origem das ideias e das coisas), e que esta era uma questão vital a ser resolvida.
4. Deu destaque ao pensamento lógico e ao raciocínio silogístico (técnica iniciada por Aristóteles na argumentação lógica) .
5. Aceitação da distinção teológica entre "natural" e "revelado".
6. Tendência para contestar tudo longamente e pormenorizadamente.

O método escolástico tinha como procedimento padrão a leitura de um livro por um estudioso ou renomado autor (por exemplo a Bíblia, os textos de Aristóteles ou Santo Agostinho, etc), fazendo referência a outros documentos relacionados e fazendo comentários sobre eles, anotando quaisquer divergências e pontos de contenção.
Eram feitas argumentações sobre as divergências na direção de encontrar um acordo usando análise filológica (exame de palavras para múltiplos significados ou ambiguidades), e através da análise lógica (usando as regras da lógica formal) para chegar a consensos.
Estas consensos eram então combinados com "referências" (qualquer número de fontes para relatar os prós e os contras de uma questão), e depois relacionados em "súmulas", que eram resumos completos de todas as perguntas, como a conhecida "Súmula Teológica" de Thomas de Aquino, que pretendia explicar a totalidade da teologia cristã na época.

A escola escolástica tinha dois métodos de ensino:
- o "lectio", que era a simples leitura de um texto por um professor, que iria expor sobre certas palavras e ideias, mas, sem que fossem feitas perguntas;
- e o "disputatio", onde a questão a ser disputada era anunciada de antemão, e os estudantes propunham uma pergunta ao professor sem preparação prévia, e o professor iria responder, citando textos oficiais, como a Bíblia para provar a sua posição, e os estudantes iriam rebater a resposta, esse procedimento seria repetido o quanto fosse necessário, um escriba ia tomando nota para resumir o argumento.

A escolástica foi simultânea ao início da filosofia islâmica e em alguns pontos foi influenciada por ela.
A partir do século VIII a Escola Mu'tazila do Islã seguiu uma teologia racional conhecida como Kalam para defender seus princípios contra a Ash'ari escola mais ortodoxa, essa teologia pode ser vista como uma forma primitiva de escolástica.
Mais tarde, as escolas filosóficas islâmicas de Avicenísmo e Averroísmo exerceram grande influência sobre a escolástica.

Houve também uma evolução semelhante na filosofia judaica medieval, especialmente na obra de Maimônides (1237 - 1204).

Provavelmente o início da escolástica se deu com as obras de Abelardo e Lombard (1100 - 1160), em particular "Frases" deste último, que foi uma coleção de opiniões sobre os padres da igreja e de outras autoridades.

Outros escolásticos iniciais incluem Hugo de São Vitor (1078 - 1151), Bernard de Clairvaux (1090 - 1153), Hildegard de Bingen (1098 - 1179), Alain de Lille (1128 - 1202) e Joaquim de Fiore (1135-1202).

As ordens franciscanas e dominicanas do século XIII produziram alguns dos mais eminentes mestres da teologia escolástica, dentre eles: Alberto Magno, São Thomas de Aquino, Alexandre de Hales e São Boaventura.

Este período também viu o surgimento da teologia mística com Mechthild de Magdeburg (1210 - 1285) e Angela de Foligno (1248 - 1309), e da filosofia natural ou ciência natural com Roger Bacon e Robert Grosseteste.

A escolástica do século XIV em diante tornou-se mais complexa e sutil em suas distinções e argumentos, incluindo os nominalistas ou voluntaristas como William de Ockham.

Também notáveis durante esse período foram John Duns Scotus, Meister Eckhart, Marsílio de Pádua, John Wycliffe, Juliana de Norwich, Geert Groote, Catherine de Siena, Jean Gerson, Jan Hus e Thomas Kempis.

A escolástica foi superada pelo humanismo dos séculos XV e XVI e passou a ser vista como uma forma rígida, formalista e ultrapassada de estudar filosofia.
Foi brevemente revivida na escola espanhola de Salamanca no século XVI, e no renascimento escolástico católico do século XIX e início do século XX, embora com um foco direcionado em determinados escolásticos e suas respectivas escolas de pensamento, principalmente São Thomás de Aquino.

***

Thomas de Aquino (1225-1274)

Foi um padre católico da ordem dominicana e um dos teólogos medievais mais importantes.
Ele foi muito influenciado pela escolástica e por Aristóteles, é conhecido por ter feito uma síntese dessas duas tradições.

Embora ele tenha escrito muitas obras de filosofia e teologia ao longo de sua vida seu trabalho mais influente é a Suma Teológica, que consiste de três partes.

A primeira parte é sobre Deus.
Nela, ele fornece cinco provas da existência de Deus, bem como uma explicação de seus atributos.
Thomas defende a atualidade e incorporalidade de Deus como o motor imóvel e descreve como Deus se move através de seu pensamento e da sua vontade.

A segunda parte é sobre Ética.
Thomas argumenta a favor de uma variação da virtude ética aristotélica.
Ao contrário de Aristóteles ele defende uma conexão entre o homem virtuoso e Deus, explicando como o ato virtuoso é um ato em direção a bem-aventurança da visão beatifica (beata visio).

A última parte da Suma trata de Cristo e ainda não estava terminada quando Thomas morreu.
No trecho escrito ele mostra como Cristo não só oferece a salvação, mas representa e protege a humanidade na Terra e no Céu.
Esta parte também discute brevemente os sacramentos e escatologia.

O nascimento de Thomas de Aquino é comumente dado como 1227, mas ele provavelmente nasceu no início de 1225 no castelo de seu pai em Roccasecea em território napolitano.

Ele morreu no mosteiro de Fossanova em 07 de março de 1274.

Seu pai descendia de uma antiga família italiana e sua mãe era condessa normanda.
Aos cinco anos ele foi enviado para a sua primeira educação no mosteiro de Monte Cassino, onde o irmão de seu pai era abade.

Mais tarde estudou em Nápoles.

Por volta de 1243 ele decidiu entrar na ordem dominicana, mas, no caminho para Roma, foi parado por seus irmãos e trazido de volta ao castelo de San Giovanni, onde foi mantido prisioneiro por um ou dois anos e onde foi tentado de variadas formas demovê-lo a abandonar o seu propósito.
Finalmente, a família se rendeu e Thomas foi enviado para Colôgnia para estudar com Alberto Magno, onde chegou provavelmente no final de 1244.
Thomas acompanhou Alberto a Paris em 1245, permaneceu lá com seu professor e continuou seus estudos por três anos, retornaram ambos a Colôgnia em 1248.
Durante vários anos Thomas permaneceu estudando com Alberto, essa longa associação fez dele um estudioso abrangente e o levou permanentemente para o método aristotélico.

Por volta de 1252 Thomas foi para Paris para fazer mestrado, recebeu o grau e passou a ensinar em 1257, ensinou em Paris por vários anos e lá escreveu algumas das suas obras e começou outras.

Em 1259 ele estava presente em um capítulo importante da sua ordem na eleição do Papa Urbano IV.
No final de 1261 ele fixou residência em Roma.
Entre 1269-1271 esteve novamente em Paris.

Em 1272 a direção provincial de Florença lhe deu o poder para fundar uma nova escola em qualquer lugar que ele escolhesse, ele escolheu Nápoles.

No início de 1274 o Papa o escalou para participar do Concílio de Lyon e ele se comprometeu a ir, mesmo não estando bem, no caminho foi obrigado a parar no castelo de uma sobrinha e ficou gravemente doente.
Ele queria terminar seus dias em um mosteiro e por não ser possível ir para um mosteiro dominicano foi levado para Fossanova.
Lá, ele morreu e seus restos mortais foram preservadas

Os escritos de Thomas podem ser classificados como:
1. exegético, homilético, e litúrgico;
2. dogmático, apologético, e ético;
3. filosófico.

Suas obras principais foram:
Comentários sobre Job (1261-1265);
Salmos, que foi um relatório de discursos prestados por seu companheiro Rainaldo;
Isaías;
Catena aurea, que foi um comentário sobre os Evangelhos;
Comentário sobre Cânticos;
Hebreus;
Officium de corpore Christi (1264);
Tractatus de decem praeceptis;
Orationis expositio dominico;
Sermones pro Dominicis diebus et pro sanctorum solemnitatibus;
Sermones De Angelis, e Sermones de quadragesima.
De seus sermões apenas cópias existem.

De escritos filosóficos são catalogados treze comentários sobre Aristóteles, além de numerosos opúsculos filosóficos das quais quatorze são classificados como genuínos.

A maior obra de Thomas foi o Suma, e é a apresentação mais completa de seus pontos de vista.
Ele trabalhou com ela desde o tempo de Clemente IV (depois de 1265) até ao fim da sua vida.

A doutrina dos sacramentos de Thomas segue a cristologia.

Sobre ética temos:
... todos os atos da virtude são prescritos pela lei natural, como a razão de cada um naturalmente dita que ele aja virtuosamente.
Mas se falarmos de atos virtuosos considerados em si mesmos, ou seja, em suas próprias espécies, segue que nem todos os atos virtuosos são prescritos pela lei natural, pois muitas coisas são realizadas virtuosamente, mas cuja natureza para ela não se inclinava inicialmente, mas que, pelo inquérito da razão, foram percebidas pelos homens como condutivas ao bem estar.

Thomas de Aquino.



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