sábado, 16 de agosto de 2014

A realidade empírica e o materialismo histórico


Introdução


Todos sabemos que um acontecimento histórico de grande importância sofre a influência de diversos fatores, isso na verdade é uma coisa por demais óbvia!
Todos sabemos também, que da mesma forma, a história da vida de uma pessoa depende de uma série de acontecimentos, isto também é óbvio.

Mas, a história acontece no presente e não no passado!

Se um asteroide colidir com o planeta Terra (como aconteceu a 60 milhões de anos atrás e que causou a extinção dos dinossauros) a história da humanidade será mudada e essa mudança histórica não dependerá em nada do contexto histórico.

Se uma pessoa levantar cedo diariamente e for cuidar da vida dela ela vai ter um tipo de vida, mas, se ela ficar dormindo até ao meio-dia todos os dias, sua história vai ser outra, independente dos acontecimentos ao seu redor.

Materialismo histórico

O materialismo histórico tem como base teórica quatro cartas escritas por Engels em 1894 para Starkenburg, Bloch, Schmidt e Mehring, e que foram divulgadas por Bernstein em 1902.
Tais cartas foram usadas posteriormente pelos soviéticos para "fundamentar" a teoria do materialismo histórico.

As quatro cartas, em inglês, podem ser encontradas em:
Engels on Historical Materialism
From New International, Vol.1 No.3, September-October 1934, pp.81-85.
Transcribed & marked up by Einde O’Callaghan for ETOL.


Em uma das cartas podemos tomar conhecimento da "base teórica" do materialismo histórico, Engels diz:

"That a certain particular man and no other emerges at a definite time in a given country is naturally pure chance.
But even if we eliminate him, there is always a need for a substitute, and the substitute is found tant bien que mal; in the long run he is sure to be found.
That Napoleon – this particular Corsican – should have been the military dictator made necessary by the exhausting wars of the French Republics that was a matter of chance.
But that in default of a Napoleon, another would have filled his place, that is established by the fact that whenever a man was necessary he has always been found: Caesar, Augustus, Cromwell, etc."

Tradução:

"Que um certo homem em particular e nenhum outra surja em um determinado momento em um determinado país é naturalmente puro acaso
Mas se ele for eliminado, haverá sempre a necessidade de um substituto, e o substituto é encontrado de uma forma ou de outra; a longo prazo ele com certeza será encontrado.
Que Napoleão - este corso especial - surgisse como ditador militar fez-se necessária devido as guerras desgastante da República Francesa, era apenas uma questão de chance.
Mas que na falta de um Napoleão, um outro teria preenchido seu lugar, isto acontece pelo fato de que sempre que um homem se faz necessário ele sempre foi encontrado: César, Augusto, Cromwell, etc."

Ou seja, para Engels, Augusto não se tornou imperador de Roma por seus próprios méritos e talentos... foi a história quem o levou a ser imperador de Roma!

Realidade empírica

Episódios decisivos e importantes para os destinos de nações e da humanidade que demonstram que a história depende da ação humana.

Por exemplo na vinda de D. João VI para o Brasil em 1808 existiram diversos fatores que influíram, alguns deles:
Os desejos de conquista de Napoleão, a fraqueza militar de Portugal, a aliança da Espanha com a França, a incapacidade momentânea da Inglaterra de defender Portugal, a existência do Brasil para onde ele podia vir, etc, etc, etc.
Mas, Portugal tinha colônias na África além do Brasil... Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique eram colônias de Portugal, D. João poderia ter ido para uma delas, por exemplo a Guiné que é relativamente perto de Portugal.
D. João poderia ter se exilado na Inglaterra se quisesse.
Poderia ter ido para a Ilha da Madeira para não ficar longe de Lisboa, onde a defesa seria mais fácil.
Ou seja, D. João tinha uma série de opções, mas, dentre elas escolheu vir para o Brasil.
Foi D. João que decidiu vir e não o contexto histórico que decidiu por ele.

Outro exemplo é a guerra entre a Roma de Otavio Augusto e o Egito de Cleópatra, o resultado dessa guerra decidiria o destino da Europa, se Otavio vencesse Roma seria o centro do mundo, se Cleópatra vencesse Alexandria seria o centro do mundo.
Os generais comandantes eram Agrippa por Roma e Marco Antonio pelo Egito.
A batalha final foi uma batalha naval, Agrippa direcionou a batalha final para ser uma batalha naval, por que?
Porque Agrippa sabia que Marco Antonio era um grande general, mas, de cavalaria e não de batalha naval!
A astúcia de Agrippa e seu talento militar
decidiram a favor de Roma a guerra contra Cleópatra

Agrippa deduziu que Marco Antonio iria usar táticas de guerra em terra, táticas de cavalaria, em lugar errado, no mar.
Agrippa estava certo, Marco Antonio fez exatamente o que ele previu que faria e sofreu uma grande derrota.
A vitória de Roma e o destino da Europa e do mundo ocidental dependeu do gênio militar de Agrippa.
É óbvio que uma série de outros acontecimentos secundários, milhares deles, aconteceram, mas o ato decisivo foi a ação humana de Agrippa.


Outro exemplo, novamente o destino da Europa dependendo da ação humana de Wellington na batalha de Waterloo.

O general inglês Wellington olhando para o campo de batalha de Waterloo,
essa sua análise e subsequentes ações decidiram a batalha a seu favor.

O destino da Europa foi decidido ali, na hora da batalha, o que havia acontecido antes com Napoleão, sua ida ao Egito, sua guerra contra a Rússia, a invasão e ocupação de Portugal, etc, tudo isso era passado, era ali, no presente dele e do general inglês Wellington que o destino da história da Europa seria decidido.
E foi, Napoleão cometeu pequenos erros táticos e Wellington se aproveitou disso e venceu a batalha.
A batalha demorou mais de um dia, foi exaustiva, dependeu de muito esforço e comando, mas, foi decidida ali, naquele dia, a favor da Inglaterra, e não devido a condições históricas anteriores.

Se os generais comandantes não fossem decisivos para os destinos de nações em guerra devido ao talento militar único que cada um possui, qualquer soldado raso poderia comandar já que o destino da luta estaria determinado pelo contexto histórico!


Outro exemplo foi a descoberta da América, podem citar dezenas de fatos que influíram, existiram, mas, se não fosse o gênio e a incansável esforço pessoal de Cristovão Colombo a América não teria sido descoberta em 1492.



Cristovão Colombo e o ovo em pé
Depois da descoberta da América o navegador genovês foi questionado durante um banquete se algum outro homem poderia ter feito o mesmo que ele.
Para dar a resposta Colombo pegou um ovo e perguntou aos presentes se algum deles poderia colocar esse ovo em pé.
As tentativas foram inúmeras, sem sucesso.
Após o término de todas as tentativas Colombo achatou uma das extremidades do ovo e o colocou em pé!
Inconformados os presentes alegaram que qualquer um poderia deixar um ovo em pé daquela forma.
Colombo concordou com eles, mas, ressaltou que qualquer um o faria somente se alguém tivesse a ideia e logo em seguida a executasse!
Ou seja, depois da coisa feita fica fácil dizer como foi feita.

A história humana é traçada da mesma forma que é traçada a vida de cada indivíduo.

A história de uma pessoa depende do que ela faça na sua vida e não do contexto histórico onde ela vive.

O presidente Lula nasceu em uma cidade pobre do interior de Pernambuco, mas, saiu de lá e veio para São Paulo e devido a sua ação humana foi presidente do Brasil, a história do Brasil dependeu dessa ação pessoal de Lula.
O contexto histórico existe, causas existem, mas, o resultado final depende de forma decisiva da ação humana no presente.



Se os acontecimentos históricos fossem de tal forma que direcionassem o desfecho final de um acontecimento histórico complexo seria possível prever o futuro!

Apesar de todos os historiadores atuais, inclusive os materialistas históricos, saberem qual é o contexto histórico atual, em 2014, ninguém é capaz de prever quem irá vencer a próxima eleição para presidente!

Essa é a prova empírica de que, apesar de muitos eventos estarem envolvidos e relacionados, no presente os acontecimentos passados deixam de existir, a história será decidida no presente pela ação direta de seus protagonistas principais.

Todos os deres humanos realistas e práticos sabem disso.




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