quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Arthur Schopenhauer (1788-1860)


Schopenhauer jovem




O mundo como Vontade e Representação

A fé na razão é da própria essência de toda empresa filosófica e a essa fé na nossa inteligência corresponde, dentro da tradição filosófica, a firme convicção de que as nossas faculdades racionais nada são senão a manifestação de uma inteligência universal.


Precisamente por isso, temos a capacidade de filosofar, de conhecer, de saber e apreender a verdade, a essência das coisas. 

Schopenhauer rompe radicalmente com essa tradição.
Estabeleceu como princípio metafísico um poder maldoso, boçal e cego, completa-mente irracional.
Schopenhauer inaugura o Existêncialismo.

O pensamento de Níetzsche, cuja idéia fundamental , a vontade de poder, nada é senão a vontade de viver de Schopenhauer, despida das suas raizes metafísicas; com a diferença de que Nietzsche, "invertendo os valores", não negava, mas afirmava, a vontade

Na filosofia de Schopenhauer a vontade irracional, longe de ser um valor positivo, é apenas o poder de fato - causa de todos os sofrimentos - que por isso deve ser aniquilada, essa mesma vontade se torna na concepção nietzscheana o mais alto valor, a máxima finalidade, idealizada no "super-homem"

A teoria de Schopenhauer de que a inteligência humana é um instrumento dos interesses pragmáticos da vontade, foi adotada por Nietzsche, Bergson e os pragmatistas americanos, tais como W. James, Dewey e outros.
A vontade, que é a essência do mundo, tem o seu foco no impulso sexual.

Schopenhauer parte de um dos princípios fundamentais de Kant: tudo que sei do mundo é, de início, a minha representação.

O mundo, como ele se apresenta nas formas da minha consciência (formas subjetivas como tempo, espaço e causalidade, isto é, a lei de causa e efeito) é só aparência e Kant chama a isso de "mundo dos fenômenos".
As coisas independentes da minha consciência, isto é, não aprendidas nas formas de tempo, espaço, causalidade, formas peculiares à consciência humana, Kant as chama de "coisas em si".

Como seriam as coisas na realidade, em si mesmas, independentes da minha consciência e das suas formas e leis? 

Kant, afirmara não o saber. 

É neste ponto que Schopenhauer se separa de Kant, tornando-se metafísico. 

Afirmava sabê-lo

O mundo, na sua essência, em si, independente da minha consciência, é Vontade, para nós é representação.
Posso sabê-lo, pois não sou só consciência, sou também corpo e coisa entre coisas e corpos.

Como todas as coisas, meu corpo é-me dado como coisa qualquer e nesse caso ele nada é senão mais um "fenômeno" exterior, dado pelos sentidos e aprendido nas formas da minha consciência. 

Além disso, porém, tenho um conhecimento imediato do meu corpo, "de dentro", por assim dizer.
E visto sob essa perspectiva, a intimidade do meu corpo se me revela como vontade. 

Portanto, meu corpo é-me dado de duas maneiras diversas:
uma vez como representação, como objeto entre objetos, submetidos às leis de todos os fenômenos que me aparecem; e depois, ele me é dado de modo totalmente diverso:
como algo imediatamente conhecido que se define por meio do termo "vontade"

Eis a essência da filosofia dq Schopenhauer: Sei-me, intimamente, como um ser que quer, que deseja, que nunca deixa de querer e de desejar. Sei intimamente, que sou vontade. Sei que, o que exteriormente se apresenta como corpo, como objeto entre objetos, intimamente é um eterno querer, ansear, desejar.

Evidentemente, os homens que me cercam não são só a minha representação subjetiva; eles têm realidade fora da minha consciência e a sua realidade intima - é como a minha, vontade.

Por mais que eu desça na escala dos seres, sempre encontro, como realidade profunda, velada sob a superfície das aparências, objetivada nas mais diversas manifestações, - a vontade.

Segue daí que o mundo é, na sua realidade ínthna, vontade - vontade una e eterna.

É O Mundo como "Vontade e Representação

Um mundo, visto de dois lados, uma vez da intimidade real, como ela me é dada na intuição imediata do meu próprio corpo, outra vez da exterioridade fenomenal ou aparente, como ela me é dada segundo as formas subjectivas da minha inteligência.

Mas é uma vontade irracional, cega e surda, pois a inteligência é só uma manifestação tardia dessa mesma vontade; só no homem a razão desperta, nos animais, ela é confusa. Nas plantas quase inexistente e nas coisas inanimadas a vontade se externa em toda a sua irracionalidade. 

No próprio homem, a vontade é aquela mesma força irracional e inconsciente, só coberta por uma crosta delgada de consciência e razão. 

Razão que, com o um mínimo abalo, se rompe, deixando à vista as entranhas fumegantes do nosso caótico ser o qual, na sua intimidade, é trevas e inconsciência.

O sexo está no centro do mundo: pois a vontade é essencialmente vontade de viver.

Ela se manifesta no mundo animal através do impulso sexual, externamente representado pelos órgãos sexuais; impulso inconsciente de procriação, pois o indivíduo, aparência fugidia, manifestação passageira, nada vale em comparação com a espécie, manifestação eterna e pura da vontade. 

A vontade, no impulso cego da auto-realização, expressa-se numa escala hierárquica de "idéias platônicas" - entidades eternas, espécies, que são a objetivação imediata e intemporal (eterno, perene) da vontade: cristais, metais, plantas, animais, homens; ou mais de perto: em espécies, tais como "cavalo", "macaco" "homem".

Só no cimo dessa pirâmide hierárquica de "idéias platônicas", surge, frágil flor, a inteligência, fenômeno superficial, lanterna que a vontade se acende para encontrar o seu caminho na escuridão.

Esse instrumento possui potências inesperadas. Schopenhauer, o metafísico do irracional, que proclama a realidade absoluta da vontade cega, boçal, prega, como coroamento da sua obra, o poder, da inteligência: uma vez surgida e desenvolvida ela pode tornar-se autônoma e independente, amotinando-se contra a sua servitude sob o chicote da vontade

O sistema de Schopenhauer termina com um evangelho de salvação, salvação pela inteligência, que se manifesta em mais alto grau no gênio e no santo.

Neste caso, eliminada a vontade, desaparecerá também o mundo dos fenômenos que nada é senão uma manifestação daquela.

 Schopenhauer velho




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